Na década de 1990, o cinema brasileiro enfrentou desafios significativos, como a diminuição do financiamento estatal e a competição com produções estrangeiras. No entanto, foi nesse contexto de adversidade que surgiu um movimento que viria a revitalizar a indústria cinematográfica nacional: a Retomada.
O termo “Retomada” foi adotado para descrever o renascimento do cinema brasileiro após um período de declínio nos anos 1980. Nesse sentido, o movimento foi caracterizado por uma série de iniciativas destinadas a fortalecer a produção cinematográfica nacional e reconquistar o interesse do público e dos investidores.
Origem do termo
Uma das razões para o título “Retomada” foi o desejo de reconquistar a relevância do cinema brasileiro tanto no mercado doméstico quanto internacional. Contudo, durante os anos 1980, a produção nacional enfrentou dificuldades financeiras e uma perda de prestígio, resultando em uma queda na produção de filmes e na falta de diversidade nas telas.
O movimento da Retomada ganhou impulso em meados da década de 1990, com o lançamento de filmes aclamados pela crítica e pelo público, como “Carlota Joaquina, Princesa do Brasil” (1995), “O Quatrilho” (1995) e “Central do Brasil” (1998). Esses filmes não apenas demonstraram a riqueza e diversidade da cultura brasileira, mas também alcançaram sucesso comercial, provando o potencial do cinema nacional.
Além disso, a Retomada também foi impulsionada por mudanças na legislação e políticas públicas que incentivaram a produção cinematográfica nacional. A criação da Lei do Audiovisual em 1993 e a reestruturação da Empresa Brasileira de Cinema (Embrafilme) foram medidas importantes que ajudaram a fornecer financiamento e suporte para os cineastas brasileiros.
Portanto, a Retomada não apenas revitalizou a indústria cinematográfica brasileira, mas também abriu portas para uma nova geração de cineastas talentosos, que exploraram uma variedade de temas e estilos, desde dramas sociais até comédias irreverentes
Início e fim do movimento
O movimento da “Retomada” no cinema brasileiro geralmente é considerado como tendo começado por volta de meados da década de 1990 e continuou ao longo dos anos seguintes. Embora não haja um consenso exato sobre um ano específico de início ou término, pode-se dizer que o movimento se desenvolveu principalmente entre meados da década de 1990 até o início dos anos 2000.
Portanto, não há um ano inicial e final definidos para a Retomada. Em vez disso, é mais apropriado entender esse movimento como um período de revitalização e renascimento do cinema brasileiro que ocorreu ao longo de vários anos, principalmente durante a década de 1990.
Hoje, o legado da Retomada continua a ser sentido na indústria cinematográfica brasileira, com o cinema nacional conquistando reconhecimento internacional e continuando a cativar o público em casa. O movimento não apenas resgatou o cinema brasileiro de um período de declínio, mas também o colocou firmemente no cenário global, celebrando a rica diversidade cultural do Brasil e inspirando cineastas em todo o mundo.
10 filmes brasileiros que fazem parte do movimento da “Retomada”
01 – “Carlota Joaquina, Princesa do Brasil” (1995) – Dirigido por Carla Camurati, este filme é uma comédia histórica que retrata a vida da princesa portuguesa Carlota Joaquina durante sua estadia no Brasil colonial. É considerado o carro-chefe das produções na era da Retomada e marcou o início do movimento.
02 – “O Quatrilho” (1995) – Dirigido por Fábio Barreto, este drama romântico ambientado na década de 1910 acompanha a história de dois casais que vivem uma relação de amizade e amor proibido. O longa teve grande êxito nas bilheterias e é considerado um triunfo para o cinema nacional. Além disso, conquistou muitos prêmios e foi indicado ao Oscar de melhor filme estrangeiro.
03 – O Guarani (1996) – Segundo filme dirigido por Norma Bengell e baseado no livro de José de Alencar, que foi lançado em 1857. Márcio Garcia e Tatiana Issa vivem respectivamente o indígena e a moça branca que lutam por um romance proibido pela sociedade no século 17. O longa custou quase 3 milhoes de reais e teve uma bilheteria fraca. Ainda assim, foi essencial para fomentar as novas produções na época.
04 – Como Nascem os Anjos (1996) – Filme dirigido por Murilo Salles que retrata os conflitos sociais de duas crianças moradoras da comunidade da Rocinha, no Rio de Janeiro. O submundo pela ótica das crianças não faz concessões e procura retratar a realidade dos moradores de uma das metrópoles mais violentas do país.
05 – “Central do Brasil” (1998) – Dirigido por Walter Salles, este aclamado drama segue a jornada de uma ex-professora e um menino órfão em uma viagem pelo interior do Brasil em busca do pai do menino. Acima de tudo, é um longa que dispensa apresentações, um marco do cinema nacional que ganhou prestígio e reconhecimento mundial.
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06 – Guerra de Canudos (1996) – Dirigido por Sérgio Rezende é um filme que teve um orçamento que ultrapassou 6 milhões de reais. Valor considerado alto para o padrão de longa metragens da época. Todo filmado na Bahia, a produção investiu em uma cidade cenográfica de 6.000 m2 e 8.000 figurantes para dar vida a história que na época do lançamento estava prestes a completar 100 anos. Contudo ,um projeto ambicioso que conseguiu imprimir ótimos resultados em uma fotografia belíssima e uma excelente reconstituição de época.
07 – Terra Estrangeira (1995) – Dirigido por Daniela Thomas e Walter Salles, o cineasta soube como ninguém aproveitar o atual cenário da Retomada e entregou obras belíssimas. Além disso, a fotografia em P&B de Walter Carvalho já torna o filme imperdível e a narrativa faz de “Terra Estrangeira” um dos melhores exemplares do movimento e muito oportuno para a época.
08 – “Amores Possíveis” (2001) – Dirigido por Sandra Werneck, este drama romântico explora as complexidades dos relacionamentos amorosos na vida urbana contemporânea.
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09 – “Lavoura Arcaica” (2001) – Dirigido por Luiz Fernando Carvalho, este drama poético narra a história de um jovem que retorna à casa dos pais após um período de ausência, confrontando os conflitos familiares e seus próprios dilemas existenciais.
10 – “Tieta do Agreste” (1996) – Dirigido por Cacá Diegues e baseado no livro de Jorge Amado, o longa foi todo gravado na Bahia. Sonia Braga está radiante como a personagem título e surgiu dela o ponto de partida para a gravação dessa versão. Enfim, é um filme aclamado pela crítica e foi indicado ao Oscar de melhor filme estrangeiro em 1997. Música tema de Caetano Veloso.
Esses filmes representam uma pequena amostra do rico e diversificado cinema brasileiro que floresceu durante o movimento da Retomada. Portanto, contribuíram para redefinir e revitalizar a indústria cinematográfica nacional.