Os Imperdoáveis: a ressurreição de um gênero esquecido

"Os Imperdoáveis" (1992), dirigido por Clint Eastwood, é frequentemente considerado uma espécie de retomada do gênero faroeste no cinema.

Há 30 anos atrás, especificamente no dia 01 de setembro de 1992, estreava no Brasil um gênero de filme que muitos acreditavam estar esquecido. “Os Imperdoáveis” (1992), dirigido por Clint Eastwood, é frequentemente considerado uma espécie de retomada do gênero faroeste no cinema.

O filme é notável por várias razões, incluindo o fato de ter sido uma produção que trouxe uma nova abordagem ao gênero, além de contar com a participação de muitos atores e profissionais que tinham uma história significativa no cinema de faroeste.

“Os Imperdoáveis” é uma revisitação do gênero faroeste que subverte muitos dos elementos tradicionais desse tipo de filme. Clint Eastwood, que também atua no filme, desempenha o papel de um pistoleiro aposentado e atormentado que é persuadido a voltar à ação para realizar um último trabalho.

No entanto, o filme não romantiza a violência, abordando os aspectos sombrios e cruéis da vida no Velho Oeste, em contraste com muitos faroestes anteriores que tendiam a glorificar os tiroteios e duelos.

Além disso, “Os Imperdoáveis” lida com temas de envelhecimento, redenção e moralidade de maneira mais complexa do que era comum nos faroestes clássicos. Isso ajudou a elevar o filme além de ser apenas uma retomada nostálgica do gênero, oferecendo uma visão mais madura e reflexiva sobre a violência e o heroísmo.

O filme recebeu grande aclamação da crítica e ganhou quatro prêmios do Oscar, incluindo Melhor Filme e Melhor Diretor para Clint Eastwood. Sua abordagem inovadora ao gênero faroeste inspirou outras produções subsequentes a explorar o gênero de maneira mais realista e complexa, influenciando a forma como os faroestes foram abordados no cinema contemporâneo.

A evolução do gênero faroeste no cinema: da fronteira à reinvenção

Lee Van Cliff: na maioria das vezes relegado a vilão

O gênero faroeste, uma das formas mais emblemáticas e icônicas do cinema, tem suas raízes profundamente enraizadas na história dos Estados Unidos e evoluiu ao longo dos anos para se tornar uma parte essencial da cultura cinematográfica global. Sua jornada desde os primeiros filmes até as reinvenções contemporâneas é um testemunho do poder duradouro das narrativas de bravura, conflito e exploração.

O surgimento do gênero faroeste no cinema remonta aos primórdios da indústria cinematográfica, com o advento do cinema mudo. A trama clássica frequentemente se concentrava em pistoleiros, xerifes, vaqueiros e colonos, destacando a luta pela sobrevivência e justiça nas vastas paisagens da fronteira americana. O cenário árido e inóspito do Velho Oeste proporcionou um pano de fundo perfeito para histórias de honra, coragem e confrontos épicos.

Os primeiros faroestes eram frequentemente marcados por uma clara distinção entre mocinhos e vilões, e a representação visual de duelos de armas era uma característica emblemática. Filmes como “O Grande Roubo do Trem” (1903) e “Assassinato de Jesse James pelo Covarde Robert Ford” (1908) estão entre os primeiros exemplos desse gênero cinematográfico emergente.

Com o tempo, o gênero evoluiu, incorporando elementos de drama, romance e aventura. Durante as décadas de 1940 e 1950, os faroestes ganharam popularidade massiva, com estrelas como John Wayne, Clint Eastwood e James Stewart se destacando em papéis icônicos. Filmes como “Era Uma Vez no Oeste” (1968) e “Por um Punhado de Dólares” (1964) moldaram a imagem do pistoleiro solitário, muitas vezes apresentando personagens complexos em narrativas cheias de reviravoltas e dilemas morais.

Contudo, na década de 1970, o gênero faroeste começou a se reinventar. Filmes como “Os Imperdoáveis” (1992), dirigido e estrelado por Clint Eastwood, subverteram as convenções estabelecidas do gênero ao explorar temas mais sombrios e realistas. Essa abordagem crua e introspectiva ajudou a redefinir a maneira como o faroeste era percebido, abrindo caminho para uma nova era de produções mais complexas.

O faroeste também encontrou maneiras de se reinventar em gêneros híbridos, como o “space western”, que mistura elementos do Velho Oeste com a ficção científica, como visto em “Star Wars” (1977). Além disso, obras contemporâneas como “Bravura Indômita” (2010) e “O Regresso” (2015) abordaram o gênero com uma nova profundidade emocional e visual, cativando públicos modernos.

O gênero western, também conhecido como faroeste, é um dos gêneros mais distintivos e icônicos do cinema. Ele se originou nos Estados Unidos e possui características específicas que o diferenciam de outros gêneros cinematográficos.

Panorama abrangente do gênero western no cinema

O quarteto de ´Sol Vermelho´, de 1971: Charles Bronson, Alain Delon, Ursula Andress e Toshiro Mifune

Origens e Influências:
O gênero western teve suas raízes nas histórias de colonização e expansão para o Oeste americano durante o século XIX. Essa era de pioneirismo, exploração e conflitos entre colonos, nativos americanos e bandidos serviu de base para as primeiras narrativas do gênero. Além disso, as lendas e figuras históricas do Oeste, como Wyatt Earp, Jesse James e Billy the Kid, também influenciaram a construção das histórias.

Primeiro Filme:
O primeiro filme considerado um western é “The Great Train Robbery” (1903), dirigido por Edwin S. Porter. Esse filme curto e mudo estabeleceu muitos dos elementos que se tornariam características do gênero, como tiroteios, roubos de trens e confrontos em cidades fronteiriças.

Era de Ouro:
A década de 1940 e 1950 foi a era de ouro do gênero western, com produções de alto orçamento e grandes estrelas. Filmes como “Os Brutos Também Amam” (1953), “Sete Homens e um Destino” (1960) e “Era Uma Vez no Oeste” (1968) se destacaram por suas tramas envolventes, personagens icônicos e cenários expansivos.

Subgêneros e Variações:
Dentro do gênero western, surgiram diversos subgêneros e variações ao longo dos anos. Alguns exemplos incluem:

Westerns de Cavalgada: Centrados nas façanhas de cowboys e vaqueiros em grandes manadas de gado, como visto em “Rio Bravo” (1959).
Westerns de Vingança: Focados em personagens em busca de vingança, como “Por um Punhado de Dólares” (1964) e “Crepúsculo de uma Raça” (2007).
Westerns Psicológicos: Exploram aspectos psicológicos e morais dos personagens, como “Os Imperdoáveis” (1992) e “O Assassino de Jesse James pelo Covarde Robert Ford” (2007).


Declínio e Reinterpretações:
O gênero western entrou em declínio na década de 1970, mas isso também permitiu a exploração de abordagens mais realistas e críticas. Filmes como “McCabe & Mrs. Miller” (1971) e “Sem Destino” (1969) trouxeram novas perspectivas ao gênero, abordando temas sociais e políticos.

Western Contemporâneo:
Embora a produção de westerns tradicionais tenha diminuído, o gênero continua a se reinventar. Filmes como “Bravura Indômita” (2010) e “O Regresso” (2015) incorporaram elementos de western em histórias contemporâneas, e produções como “Django Livre” (2012) de Quentin Tarantino misturam o gênero com outros estilos.

Legado:
O gênero western deixou um impacto profundo na cultura popular, influenciando não apenas o cinema, mas também a literatura, música e moda. Seu poder duradouro está enraizado na maneira como explorou temas universais de coragem, honra, justiça e exploração, enquanto também refletia a evolução dos valores sociais e políticos ao longo do tempo.

Faroeste spaghetti

O ator Giuliano Gemma estrelou inúmeros faroestes italianos
O ator Giuliano Gemma estrelou inúmeros faroestes italianos


O faroeste spaghetti, também conhecido como western spaghetti, é um subgênero distinto de filmes de faroeste que se originou na Itália nas décadas de 1960 e 1970. Esse subgênero ganhou esse nome porque muitos dos filmes foram produzidos por diretores e estúdios italianos e, de certa forma, faziam referência aos ingredientes principais da culinária italiana: o macarrão (spaghetti) e o molho.

Características do Faroeste Spaghetti:
Os faroestes spaghetti se diferenciam dos faroestes tradicionais de Hollywood por várias características marcantes:

Antagonistas Complexos: Ao contrário dos mocinhos e vilões claramente definidos dos faroestes americanos, os faroestes spaghetti muitas vezes apresentavam personagens com motivações ambíguas e complexas.

Violência Exagerada: Os faroestes spaghetti frequentemente apresentavam cenas de violência mais brutais e realistas em comparação com os faroestes americanos da época.

Cenários e Ambientes: Muitos desses filmes foram filmados na Espanha ou em outros países europeus, oferecendo paisagens únicas que diferiam das vastas planícies americanas.

Enredos Cínicos e Irônicos: Os faroestes spaghetti muitas vezes abordavam temas sombrios, cínicos e irônicos, desafiando a idealização da fronteira americana.

Trilhas Sonoras Memoráveis: As trilhas sonoras dos faroestes spaghetti, frequentemente compostas por artistas como Ennio Morricone, contribuíram significativamente para o clima dos filmes.

Diretores e Filmes Notáveis:
O diretor Sergio Leone é frequentemente considerado o pioneiro do gênero, tendo dirigido alguns dos filmes mais influentes, como:

“Por um Punhado de Dólares” (1964)
“Por uns Dólares a Mais” (1965)
“Três Homens em Conflito” (1966)
Outros diretores notáveis incluem Sergio Corbucci (“Django” – 1966) e Enzo G. Castellari (“Keoma” – 1976).

Legado e Impacto:
O faroeste spaghetti teve um impacto duradouro na cultura cinematográfica. Ele subverteu as convenções do faroeste tradicional e influenciou muitos cineastas subsequentes. A trilha sonora icônica de Ennio Morricone para esses filmes também se tornou parte integrante da música popular e do imaginário cultural.

Embora o auge do faroeste spaghetti tenha sido nas décadas de 1960 e 1970, seu legado ainda é sentido em filmes contemporâneos que incorporam elementos do subgênero ou que prestam homenagem a essa era. Seja por meio de enredos complexos, personagens ambíguos ou cenas de ação intensas, o faroeste spaghetti deixou uma marca indelével na história do cinema.

Em suma, o gênero western desempenhou um papel crucial no desenvolvimento do cinema e continua a ser uma parte essencial do cânone cinematográfico, repleto de histórias cativantes, paisagens épicas e personagens inesquecíveis que ecoam a essência da jornada humana na fronteira.

Faroeste contemporâneo

John Travolta e Ethan Hawke em ´No Vale da Violência`, filme de 2016 dirigido por Ti West


O faroeste moderno, também conhecido como neo-western, refere-se a filmes do gênero faroeste, mas que trazem uma abordagem contemporânea às temáticas, estilos e narrativas tradicionalmente associados aos filmes de faroeste clássicos. Esses filmes buscam revitalizar o gênero ao adaptá-lo às sensibilidades e contextos atuais, muitas vezes explorando temas atemporais de justiça, fronteira e moralidade em cenários e situações contemporâneas. Aqui estão algumas características e exemplos do faroeste moderno:

Ambiente e Contexto Atual: Os faroestes modernos frequentemente situam suas histórias em ambientes contemporâneos, seja em áreas rurais ou urbanas. Isso permite que os filmes explorem questões sociais e políticas do mundo moderno enquanto mantêm elementos do gênero faroeste.

Exploração de Temas Atuais: Esses filmes frequentemente abordam temas relevantes para a sociedade atual, como a exploração de recursos naturais, conflitos étnicos, desigualdade, corrupção e outras questões contemporâneas.

Personagens Complexos: O faroeste moderno muitas vezes apresenta personagens com camadas psicológicas mais profundas e motivações ambíguas, rompendo com a dicotomia de mocinhos e vilões dos faroestes clássicos.

Estilo Visual e Narrativo: Enquanto alguns faroestes modernos podem adotar um estilo visual semelhante ao dos clássicos, outros podem incorporar técnicas cinematográficas mais modernas para criar uma atmosfera única.

Fusão de Gêneros: Muitos faroestes modernos misturam elementos de outros gêneros, como drama, suspense, ação ou até mesmo toques de filmes de terror, resultando em narrativas mais complexas e multidimensionais.

10 faroestes que são considerados como algumas das obras mais notáveis e influentes:

01 – “Três Homens em Conflito” (The Good, the Bad and the Ugly) – 1966
Direção: Sergio Leone
Este filme é frequentemente citado como um dos melhores filmes de faroeste de todos os tempos, com sua trilha sonora icônica e personagens memoráveis.

02 – “Era Uma Vez no Oeste” (Once Upon a Time in the West) – 1968
Direção: Sergio Leone
Outro filme de Leone que é altamente elogiado por sua narrativa complexa, cinematografia deslumbrante e trilha sonora marcante.

03 – “Os Brutos Também Amam” (Shane) – 1953
Direção: George Stevens
Este filme clássico é conhecido por sua abordagem realista e emocional do gênero, explorando temas como honra e responsabilidade.

04 – “Era uma Vez no México” (The Wild Bunch) – 1969
Direção: Sam Peckinpah
Este filme é notório por sua violência gráfica, mas também é elogiado por sua abordagem realista e discussão sobre a mudança dos valores no Velho Oeste.

05 – “Por um Punhado de Dólares” (A Fistful of Dollars) – 1964
Direção: Sergio Leone
A introdução de Leone à trilogia dos dólares trouxe uma nova energia ao gênero com sua abordagem inovadora.

06 – “Sete Homens e um Destino” (The Magnificent Seven) – 1960
Direção: John Sturges
Uma adaptação do clássico “Os Sete Samurais”, este filme é apreciado por suas sequências de ação e elenco estelar.

John Wayne em ´Bravura Indômita´: o ator desempenhou o caubói em grandes clássicos

07 – “Bravura Indômita” (True Grit) – 1969
Direção: Henry Hathaway
Um filme que combina ação e drama com uma trilha sonora memorável e interpretações fortes.

08 – “Os Imperdoáveis” (Unforgiven) – 1992
Direção: Clint Eastwood
Eastwood volta ao gênero para contar uma história profunda e melancólica sobre envelhecimento e redenção.

09 – “Rio Bravo” (1959)
Direção: Howard Hawks
Um clássico do faroeste que enfoca a camaradagem e a luta por justiça em uma cidade sitiada.

10 – “Bravura Indômita” (True Grit) – 2010
Direção: Joel e Ethan Coen
Os irmãos Coen reinterpretam o clássico com seu estilo único, recebendo elogios pela atuação de Jeff Bridges e pela narrativa envolvente.

Esses filmes abrangem uma variedade de estilos e abordagens dentro do gênero faroeste, refletindo a diversidade e a riqueza das histórias que o gênero tem a oferecer.

Em conclusão, o gênero faroeste emergiu como uma forma duradoura e influente no cinema, capturando a imaginação do público com sua representação da fronteira, heroísmo e conflito. Sua evolução ao longo dos anos, da narrativa simplista dos primeiros dias à exploração de complexidades emocionais e sociais, é um testemunho de sua capacidade de se adaptar e permanecer relevante em diferentes épocas. Seja no cenário implacável do Velho Oeste ou em contextos reinventados, o faroeste continua a moldar a linguagem cinematográfica e a narrativa global.

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Alessandra Rocha
Alessandra Rocha
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