O fracasso de “Coringa: Delírio a Dois” nas bilheterias

O fracasso de Coringa 2 não é um caso isolado. Outra grande produção de 2024, Furiosa - Uma Saga Mad Max, também fracassou nas bilheterias, apesar das altas expectativas.

O fenômeno de 2019, Coringa, estrelado por Joaquin Phoenix, deixou sua marca como uma das adaptações mais ousadas e sombrias de um personagem dos quadrinhos. No entanto, sua aguardada sequência, Coringa: Delírio a Dois, que estreou recentemente, não conseguiu repetir o sucesso nas bilheteiras. Pior, o filme acaba de estabelecer um recorde indesejado: a maior queda de arrecadação na segunda semana da história dos filmes de quadrinhos, com uma redução de 82% nos lucros. Superando o filme As Marvels (2023), que até então detinha o título com uma queda de 78%. Esse resultado levanta diversas questões sobre os rumos de megaproduções hollywoodianas e o que pode estar afastando o público das salas de cinema.

A queda histórica de Coringa: Delírio a Dois

De acordo com informações do The Hollywood Reporter, o filme arrecadou entre US$ 6,6 milhões e US$ 6,8 milhões durante seu segundo fim de semana em cartaz. Uma queda drástica em relação à sua semana de estreia. A expectativa inicial era que a redução nas bilheteiras fosse em torno de 75%, mas o declínio acabou sendo maior do que o previsto. Essa é uma das maiores quedas já registradas para um filme de quadrinhos, especialmente para uma sequência tão aguardada quanto Coringa 2.

Jeff Goldstein, presidente de distribuição doméstica da Warner Bros., reconheceu o fracasso em entrevista. Ao Wall Street Journal, admitiu que o filme não foi recebido como esperado pelo público. Nesse sentido, as previsões iniciais indicavam uma arrecadação de US$ 70 milhões, mas esse valor foi revisto para US$ 50 milhões antes do lançamento. Sendo assim, a estreia abaixo das expectativas e a queda abrupta na segunda semana refletem uma série de fatores que podem ter influenciado a rejeição do público.

Concorrência nas telas e recepção fria

Na segunda semana de exibição, Coringa: Delírio a Dois enfrentou forte concorrência de novos lançamentos, como Terrifier 3 e O Robô Selvagem, ambos com previsões de arrecadar entre US$ 12 milhões e US$ 13 milhões. Esses títulos trouxeram alternativas de entretenimento que acabaram ofuscando o novo filme do Coringa. Além disso, a recepção crítica de Coringa 2 foi particularmente negativa, com o filme alcançando a pior avaliação de um filme de super-herói no CinemaScore. Isso sem dúvida afetou o boca a boca e desestimulou novos espectadores a irem aos cinemas.


O diretor Todd Phillips entre a cantora Lady Gaga e Joaquim Phoenix na premiere de Coringa: Delírio a Dois
O diretor Todd Phillips entre a cantora Lady Gaga e Joaquim Phoenix na premiere de Coringa: Delírio a Dois

O fator musical: uma escolha polêmica?

Uma das decisões mais controversas em Coringa: Delírio a Dois foi a transformação do filme em um musical. Um gênero inesperado para uma sequência de um dos filmes de quadrinhos mais violentos e sombrios já feitos. No primeiro Coringa, a abordagem psicológica e realista de Arthur Fleck conquistou tanto o público quanto a crítica, com Joaquin Phoenix ganhando o Oscar de Melhor Ator por sua performance.

Entretanto, o tom da sequência é drasticamente diferente. Coringa: Delírio a Dois introduz uma nova abordagem ao explorar o relacionamento de Arthur com Arlequina (interpretada por Lady Gaga) em um ambiente mais onírico e musical. Enquanto isso poderia ter sido visto como uma ousada reinvenção do personagem, o público parece não ter abraçado a ideia. Sendo assim, fãs que esperavam um filme mais próximo do universo sombrio do Batman ou mais conectado aos quadrinhos ficaram desapontados. Portanto, o musical pode ter sido um passo longe demais para uma audiência que se identificava mais com a violência visceral e o realismo do primeiro filme.

Megaproduções em crise? O caso de Furiosa – Uma Saga Mad Max

O fracasso de Coringa 2 não é um caso isolado. Outra grande produção de 2024, Furiosa – Uma Saga Mad Max, também fracassou nas bilheteiras, apesar das altas expectativas. O filme, que prometia expandir o universo de Mad Max e apresentar uma heroína em vez do tradicional protagonista masculino, não foi bem recebido. Portanto, alguns críticos e fãs especulam que a mudança de foco de Max para Furiosa pode ter afastado parte do público, que esperava uma continuidade direta da história do herói pós-apocalíptico.

Além disso, muitos espectadores podem ter se sentido confusos com os rumos da trama. Em vez de um retorno às origens de Mad Max, o filme centrou-se em uma nova personagem, o que talvez tenha diluído a identidade do universo construído anteriormente. Contudo, essas mudanças estruturais e narrativas em megaproduções podem ser arriscadas, especialmente quando se trata de franquias já estabelecidas, como Mad Max.

Crise de super-heróis?

Outro fator a se considerar é a possível fadiga do público com filmes de super-heróis. Nas últimas duas décadas, o gênero dominou as bilheteiras, mas em 2023 e 2024, vários títulos importantes fracassaram. Além de Coringa 2, As Marvels e Furiosa, filmes como Shazam! Fúria dos Deuses e Homem-Formiga e a Vespa: Quantumania também tiveram desempenho abaixo do esperado.

A saturação de filmes de quadrinhos pode estar contribuindo para a rejeição do público, que já não é tão facilmente conquistado por efeitos especiais e cenas de ação exageradas. Muitos fãs e críticos acreditam que a falta de inovação nas narrativas e a superprodução de títulos dentro do mesmo universo estão cansando os espectadores. Com exceção de raros sucessos como Homem-Aranha: Sem Volta para Casa, que trouxe elementos nostálgicos e novas surpresas, o público parece estar se afastando desse tipo de produção.

O futuro das produções hollywoodianas

Com o fracasso de Coringa: Delírio a Dois e Furiosa, surge uma questão importante: o que o público realmente quer ver nas telas? Grandes orçamentos e efeitos visuais impressionantes já não garantem o sucesso nas bilheteiras. Produções com temáticas mais profundas, personagens bem desenvolvidos e narrativas inovadoras têm mais chances de conquistar o espectador moderno.

Outro ponto importante é a forma como as plataformas de streaming estão impactando o consumo de filmes. Com tantas opções disponíveis em casa, muitos espectadores estão preferindo esperar que os filmes cheguem às plataformas digitais, em vez de pagar por ingressos de cinema. Isso levanta a questão de como Hollywood vai se adaptar a essa nova realidade e como continuar produzindo grandes títulos sem depender apenas da bilheteira tradicional.

Mudanças na indústria

O fracasso de Coringa: Delírio a Dois é um indicativo de que o público está cada vez mais exigente com o que consome no cinema. Megaproduções hollywoodianas, como Furiosa, também sofreram nas bilheteiras, mostrando que nem mesmo franquias de sucesso estão imunes. O que o futuro reserva para o cinema? É claro que as mudanças na indústria são inevitáveis, e talvez estejamos à beira de uma nova era, em que as histórias contadas, e não apenas os efeitos especiais, serão o verdadeiro atrativo para os espectadores.

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Diego Almeida
Diego Almeida

Formado em Publicidade e pós graduado em Artes visuais. Admirador da cultura pop no geral, com objetivo em viajar por toda Europa em 1 mês apenas.

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