O fascínio por Dahmer e as representações de um serial killer

O sucesso de Dahmer - Um Canibal Americano pode ser explicado pelo fascínio que histórias sobre serial killers exercem no imaginário popular.

Lançada recentemente, Dahmer – Um Canibal Americano, da Netflix, rapidamente se tornou um dos conteúdos mais assistidos na plataforma. A série, que traz Evan Peters em uma atuação memorável e assustadoramente convincente, mergulha na vida e nos crimes de Jeffrey Dahmer, um dos mais perversos e intrigantes serial killers da história recente. O sucesso da produção não se deve apenas à fidelidade com que retrata os horrores cometidos por Dahmer, mas também à profundidade emocional que Peters consegue trazer ao personagem, humanizando o monstro sem justificar seus crimes. Com uma trama que vai além dos assassinatos e busca entender as camadas psicológicas do criminoso, Dahmer – Um Canibal Americano chamou a atenção para as adaptações anteriores da vida de Dahmer no cinema.

Entre essas adaptações, dois filmes de baixo orçamento merecem destaque para quem está acompanhando a série da Netflix: Dahmer – Mente Assassina (2002) e O Despertar de um Assassino (2019). Apesar de não terem o mesmo reconhecimento da série, ambos oferecem diferentes abordagens sobre a vida de Dahmer, focando nas origens e nas complexidades de sua personalidade.

Dahmer – Mente Assassina (2002): a primeira incursão ao abismo

Lançado em 2002, Dahmer – Mente Assassina (Dahmer) foi uma das primeiras tentativas de Hollywood de explorar a mente do serial killer. Dirigido por David Jacobson, o filme traz Jeremy Renner no papel de Jeffrey Dahmer, em uma das atuações mais perturbadoras de sua carreira. Renner, ainda desconhecido do grande público na época, mergulha profundamente na psique do assassino, criando um personagem frio, mas com traços de humanidade que tornam o espectador incapaz de olhar para ele apenas como um monstro.

Ao invés de focar apenas nos assassinatos brutais, o filme tenta entender os impulsos que levaram Jeffrey a cometer tais atrocidades. A narrativa fragmentada, que alterna entre o presente e o passado, revela como os traumas de infância, a sexualidade reprimida e a solidão contribuíram para moldar o futuro assassino. Jeremy Renner consegue capturar essa dualidade do serial killer, retratando-o como alguém perdido em seus próprios demônios, ao mesmo tempo em que causa repulsa pelas atrocidades que cometeu.

Uma curiosidade interessante sobre a produção é que Renner inicialmente relutou em aceitar o papel, temendo que interpretar um serial killer pudesse manchar sua carreira. No entanto, a complexidade do personagem o atraiu, e sua atuação foi tão impressionante que se tornou um marco em sua trajetória, abrindo portas para papéis de maior destaque em Hollywood.

O filme, apesar de seu baixo orçamento e de não ter alcançado grande sucesso de bilheteria, é recomendado para aqueles que querem um olhar mais íntimo sobre o que pode ter levado Jeffrey a se tornar um dos criminosos mais infames da história americana.

Confira o trailer de ´Dahmer – Mente Assassina` lançado em 2002

O Despertar de um Assassino (2019): um olhar sobre a adolescência de Dahmer

Já em 2019, O Despertar de um Assassino (My Friend Dahmer) foi lançado, oferecendo uma perspectiva diferente: a adolescência de Jeffrey Dahmer e os primeiros sinais de sua futura carreira como serial killer. Baseado na graphic novel autobiográfica de John “Derf” Backderf, que foi colega de escola de Dahmer, o filme foca nos anos formativos do assassino, antes de ele cometer seus primeiros crimes.

Ross Lynch, conhecido por seus trabalhos em séries juvenis, assume o papel de Dahmer e surpreende ao entregar uma atuação sutil e carregada de tensão. Seu Dahmer é um jovem alienado e desajustado, que luta para lidar com seus impulsos cada vez mais perturbadores. O filme mostra como Dahmer já apresentava sinais de sociopatia e tendências violentas, mas também evidencia sua necessidade de ser aceito pelos colegas e a incapacidade dos adultos ao seu redor de perceberem o perigo que ele representava.

Diferente de Dahmer – Mente Assassina, este filme evita mostrar os assassinatos, concentrando-se mais na construção psicológica do personagem. A escolha de focar na juventude de Dahmer torna a história ainda mais perturbadora, ao mostrar como alguém aparentemente inofensivo poderia se transformar em um dos assassinos mais cruéis da história. A performance de Ross Lynch, inesperadamente madura, foi amplamente elogiada por sua capacidade de capturar a complexidade emocional do jovem Dahmer.

Entre as curiosidades do filme, destaca-se o fato de que a graphic novel que serviu de base para o roteiro foi escrita por alguém que conheceu Dahmer pessoalmente, trazendo uma autenticidade perturbadora à narrativa. Backderf relembra em sua obra como Dahmer, já na adolescência, tinha comportamentos extremamente bizarros, como simular ataques epiléticos ou carregar animais mortos na mochila, sinais claros de que algo muito errado estava acontecendo.

Confira o trailer de ´O Despertar de um Assassino` lançado em 2019

O sucesso da série da Netflix e a fascinação contínua pelo serial killer

O sucesso de Dahmer – Um Canibal Americano pode ser parcialmente explicado pelo fascínio que histórias sobre serial killers continuam a exercer no imaginário popular. A série, com Evan Peters no papel principal, oferece uma versão do serial killer que é ao mesmo tempo repulsiva e hipnotizante. Peters, já conhecido por seus papéis em American Horror Story, entrega uma atuação que vai além do terror, explorando a fragilidade e a monstruosidade de Dahmer com uma precisão assustadora.

Esse fascínio, no entanto, não é algo novo. Desde o lançamento de Dahmer – Mente Assassina em 2002 até O Despertar de um Assassino em 2019, a figura de Jeffrey Dahmer tem sido explorada de diferentes maneiras no cinema. Cada uma dessas produções oferece uma faceta diferente de sua personalidade e tenta, de alguma forma, explicar o inexplicável: como alguém pode se tornar tão desumano?

A importância de contextualizar as representações de Jeffrey Dahmer

Ao assistir a qualquer uma dessas adaptações, seja a série da Netflix ou os filmes anteriores, é importante lembrar que, embora as produções explorem o lado psicológico e humano de Jeffrey Dahmer, seus crimes foram reais e devastadores para muitas famílias. A glamourização do assassino é uma crítica recorrente em produções desse tipo, e é fundamental que o espectador mantenha em mente a linha tênue entre entender a mente de um criminoso e romantizá-la.

Dahmer – Mente Assassina e O Despertar de um Assassino oferecem visões complementares à série da Netflix, ajudando a formar um panorama mais completo sobre o que pode ter levado Jeffrey Dahmer a cometer suas atrocidades. As atuações de Jeremy Renner e Ross Lynch trazem camadas de complexidade ao personagem, mostrando que o criminoso era, acima de tudo, um ser humano perturbado e imerso em seus próprios demônios. No entanto, é a atuação de Evan Peters, na série da Netflix, que parece ter alcançado o ponto mais alto ao equilibrar monstruosidade e fragilidade com uma maestria que ficará marcada na história das representações de serial killers na tela.

Assim, para quem ficou fascinado pela série Dahmer – Um Canibal Americano, os filmes Dahmer – Mente Assassina e O Despertar de um Assassino são complementos valiosos que oferecem diferentes olhares sobre a vida e a mente desse assassino cruel.

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Alessandra Rocha
Alessandra Rocha
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