Na década de 80, o cinema de terror brasileiro experimentou um período de efervescência criativa, produzindo filmes que desafiavam as convenções e exploravam narrativas distintas. Essas obras marcaram uma mudança significativa na abordagem do gênero no contexto cinematográfico nacional.
Impacto e Influências:
Inserção de Elementos Culturais Brasileiros: Os filmes de terror da década de 80 incorporaram elementos culturais brasileiros de maneira única. Obras como “À Meia-Noite Levarei Sua Alma” , de José Mojica Marins, serviram como referencial para muitos cineastas que na época, estavam ´experimentando` esse novo gênero no país. Alguns trouxeram mitos e folclores locais para o centro das narrativas, conferindo uma identidade singular ao terror brasileiro.
Desconstrução de Estereótipos: Muitos desses filmes buscaram quebrar estereótipos associados ao cinema de terror, explorando personagens e histórias que fugiam do convencional. “O Segredo da Múmia” (Ivan Cardoso, 1982) é um exemplo, apresentando uma trama que mescla elementos de horror com uma abordagem mais irreverente.
Reflexão Social e Política: Alguns filmes de terror da época foram além do susto superficial, incorporando críticas sociais e políticas. “A Pata do Macaco” (Ademar Guerra, 1983) é um exemplo de como o gênero foi utilizado para explorar questões urbanas e sociais na metrópole brasileira.
Fontes e Referências:
Cinema Marginal e Vanguarda: Muitos dos cineastas envolvidos nesse movimento, como José Mojica Marins e Ivan Cardoso, eram influenciados pela estética do Cinema Marginal e da Vanguarda. Isso se reflete na abordagem experimental de muitas produções da década.
Folk Horror e o Sobrenatural Brasileiro: O cinema de terror brasileiro da década de 80 também bebeu de fontes folclóricas e do misticismo presente na cultura nacional. Elementos de folk horror foram incorporados, enriquecendo as narrativas com o sobrenatural brasileiro.
Os filmes de terror brasileiros da década de 80 serviram como referência para inúmeras produções no cinema nacional, influenciando gerações posteriores de cineastas. Ao desafiar convenções, explorar a rica cultura local e incorporar elementos sociais, essas obras contribuíram para a diversificação e amadurecimento do cinema de terror no Brasil.
O gênero “terrir” ganhou destaque nos anos 80 no cenário do cinema brasileiro, caracterizando-se pela fusão de elementos de terror com doses consideráveis de humor. Essa abordagem inovadora permitiu que cineastas explorassem o gênero de maneira mais leve e, muitas vezes, irônica. Vamos traçar um panorama dos filmes que uniam humor e terror no Brasil nessa década.
“Terrir” brasileiro nos anos 80: quando o Medo encontra o humor nas telas
O “terrir” brasileiro, uma mescla de terror e humor, emergiu como uma abordagem distintiva no cinema nacional durante os anos 80, proporcionando uma experiência única aos espectadores. Diversos filmes contribuíram para a popularidade desse gênero, combinando sustos com risadas de forma inusitada.
Características do “Terrir” Brasileiro:
Ironia e Autocrítica: Os filmes de “terrir” muitas vezes incorporavam uma abordagem irônica em relação aos clichês do cinema de terror, provocando risos ao mesmo tempo em que homenageavam e satirizavam o gênero.
Personagens Exagerados: Os personagens muitas vezes eram caricatos e exagerados, contribuindo para o tom humorístico. Isso permitia que os filmes explorassem situações absurdas e surrealistas.
Intertextualidade Cinematográfica: O “terrir” frequentemente fazia referências a outros filmes do gênero, criando uma intertextualidade que era apreciada pelos fãs de cinema.
A produção do cinema de terror na década de 80 muitas vezes era feita de forma ´mambembe´, ou seja, sem muita verba. Bons efeitos especiais eram relegados às obras americanas, a alternativa no Brasil era criar obras assumidamente trash, tornando a experiência cômica e aliada ao ´molho` brasileiro, com muitas mulheres semi-nuas. Uma tática herdada desde a época das chanchadas.
Os filmes de “terrir” brasileiro da década de 80 ofereceram uma alternativa refrescante ao tradicional cinema de terror, proporcionando entretenimento que ia além do susto convencional. Essas obras, ao abraçar o humor, conquistaram um lugar único no coração dos espectadores e continuam a ser apreciadas como parte importante da história cinematográfica brasileira.
8 filmes de terror brasileiros que se destacaram na década de 80
01 – “O Segredo da Múmia” (1982) – Ivan Cardoso: Uma comédia de terror que mistura elementos de horror com humor. O filme de Ivan Cardoso é conhecido por sua abordagem única e por satirizar as convenções do cinema de terror.
02 – “As Sete Vampiras” (1986) – Ivan Cardoso: Outra contribuição do diretor Ivan Cardoso, este filme mistura elementos de terror e comédia ao explorar o mito das vampiras de maneira única.
03 – Shock: Diversão Diabólica (1984) – Jair Correia: Estilo slasher que se passa em um sítio onde os personagens vão morrendo como nos filmes americanos.
04 – Karma – Enigma do medo (1984) – Custódio Gomes: A história se passa em uma fazenda de propriedade de dois irmãos, local onde acontecem mortes misteriosas.
05 – Estrela Nua (1985) – José Antonio Garcia e Ícaro Martins: Não é propriamente um filme de terror, mas possui elementos e o clima que remetem à esse gênero.
06 – Atração Satânica (1989) – Fauzi Mansur: Locutora de uma rádio local começa a ser atormentada por um serial killer e se transforma na principal suspeita dos crimes ocorridos.
07 – A Pata do Macaco (1983) – Ademar Guerra: Filme feito para Televisão com bons elementos de suspense e terror. Um amuleto com poderes sobrenaturais realiza desejos, mas traz consequências terríveis à uma família.
08 – A Praga (1980) – Filme de José Mojica Marins gravado em 1980 que havia sido perdido, foi lançado anos depois após passar por uma restauração. Possui todos os elementos trash da época, hoje é considerado relíquia nacional.
Esses filmes refletem a diversidade de abordagens ao terror na década de 80 no Brasil, com diretores experimentando e explorando diferentes subgêneros dentro do contexto do cinema de terror.
