A influência do cinema dos anos 80 no cinema dos anos 90

O cinema é uma arte em constante transformação, e as décadas de 80 e 90 exemplificam bem essa dinâmica. Os anos 80 foram marcados por uma explosão de criatividade e inovações tecnológicas, que moldaram o entretenimento global e estabeleceram bases que seriam revisitadas e aprimoradas nos anos 90. Vamos explorar como o cinema dos anos 90 absorveu elementos chave da década anterior, os nomes que contribuíram para essa evolução e como essas referências foram reinventadas. Além disso, discutiremos quais experimentos deram certo, quais falharam e traçaremos uma linha que conecta essas duas épocas tão influentes.

Os blockbusters: de formulação a evolução

Os anos 80 consolidaram os blockbusters, com filmes como Star Wars: O Império Contra-Ataca (1980), E.T. (1982) e Indiana Jones e os Caçadores da Arca Perdida (1981). Esses filmes definiram um padrão de entretenimento: narrativas cativantes, personagens carismáticos e efeitos especiais inovadores. Nos anos 90, essa fórmula não apenas foi replicada, mas elevada a novos patamares. Steven Spielberg, por exemplo, retornou ao gênero com Jurassic Park (1993), que redefiniu o uso de CGI e práticas animatrônicas.

Por outro lado, houve tentativas de reviver a magia dos anos 80 que não alcançaram o mesmo impacto. Filmes como O Mestre do Universo (1987), que tentou capitalizar na febre dos brinquedos, falharam em capturar a essência que tornava os blockbusters autênticos. Nos anos 90, Super Mario Bros. (1993) seguiu o mesmo caminho, sendo amplamente criticado pela execução desleixada e pela falta de conexão emocional com o público.

Os astros de ação e a reinvenção do heroísmo

A década de 80 foi a era dos heróis musculosos e invencíveis, com nomes como Arnold Schwarzenegger (O Exterminador do Futuro) e Sylvester Stallone (Rambo). Esses ídolos estabeleceram um padrão para os filmes de ação. Nos anos 90, no entanto, houve uma tentativa de humanizar os protagonistas. Em O Fugitivo (1993), Harrison Ford interpretou um homem comum enfrentando adversidades extraordinárias, enquanto Keanu Reeves trouxe uma abordagem mais introspectiva em Matrix (1999), misturando filosofia e cenas de ação coreografadas de maneira inovadora.

No entanto, nem todas as tentativas de reinvenção foram bem-sucedidas. Filmes como Street Fighter: A Batalha Final (1994), estrelado por Jean-Claude Van Damme, ilustram como o excesso de confiança em uma estrela de ação e roteiros fracos podem levar a um fracasso.

Efeitos práticos da década de 80 evoluíram para o CGI nos 90. Jurassic Park tem forte influência da década anterior nesse quesito. (Foto: Divulgação/Universal)
Efeitos práticos da década de 80 evoluíram para o CGI nos 90. Jurassic Park tem forte influência da década anterior nesse quesito. (Foto: Divulgação/Universal)

A evolução dos efeitos especiais

A revolução tecnológica nos efeitos especiais, iniciada nos anos 80, abriu caminho para inovações ainda mais impressionantes nos anos 90. Filmes como Tron (1982) introduziram conceitos de computação gráfica, mas foi em Jurassic Park que os avanços atingiram um novo nível. George Lucas, cujo trabalho nos anos 80 com a franquia Star Wars transformou o cinema, contribuiu novamente com a criação da Industrial Light & Magic (ILM), que se tornou a principal empresa de efeitos visuais da época.

Contudo, essa dependência de efeitos também resultou em falhas. O Escorpião Rei (2002, embora no limiar do fim da década) exemplifica como um mau uso de CGI pode prejudicar a imersão do espectador.

A ficção científica e o horror na influência dos anos 80 nos 90

Nos anos 80, filmes como Blade Runner (1982) e O Enigma de Outro Mundo (1982) estabeleceram o tom para a ficção científica e o horror. Nos anos 90, cineastas como James Cameron (O Exterminador do Futuro 2) expandiram essas ideias, mesclando efeitos visuais de ponta com narrativas emocionais.

Por outro lado, o horror nos anos 90 também revisitou o slasher dos anos 80, mas com uma abordagem autorreferencial. Wes Craven revolucionou o gênero com Pânico (1996), que misturava terror e humor, ao mesmo tempo que homenageava os clichês do passado.

Os diretores e roteiristas que marcaram a transição

Se os anos 80 foram dominados por diretores como Steven Spielberg e George Lucas, os anos 90 viram o surgimento de uma nova geração. Quentin Tarantino despontou com Pulp Fiction (1994), trazendo uma abordagem inovadora de narrativa não linear. Os irmãos Coen, que já haviam feito sucesso nos anos 80 com Gosto de Sangue (1984), alcançaram novos patamares com Fargo (1996).

O mesmo vale para roteiristas, como Charlie Kaufman, que trouxe um toque surrealista para os anos 90 com Quero Ser John Malkovich (1999). Esses profissionais não apenas absorveram as influências dos anos 80, mas também as adaptaram, criando algo inteiramente novo.

Harrison Ford: ator iniciou na década de 70, se popularizou na década de 80 e manteve-se no topo nos anos 90. (Foto: Divulgação/Paramount)
Harrison Ford: ator iniciou na década de 70, se popularizou na década de 80 e manteve-se no topo nos anos 90. (Foto: Divulgação/Paramount)

Atores que transcenderam décadas

Alguns atores conseguiram permanecer relevantes nas duas décadas. Tom Cruise, que se tornou uma estrela com Top Gun (1986), consolidou-se nos anos 90 com Missão Impossível (1996). Além disso, ele diversificou seus papéis, transitando por dramas como Jerry Maguire (1996), que mostraram sua versatilidade. Meryl Streep, sempre uma referência de excelência, expandiu ainda mais seu alcance nos anos 90, com papéis memoráveis como em As Pontes de Madison (1995), demonstrando sua habilidade de cativar gerações diferentes.

Harrison Ford também se destacou, consolidando-se como um astro atemporal. Após o sucesso de Indiana Jones nos anos 80, ele manteve sua relevância nos anos 90 com O Fugitivo e Inimigo Íntimo (1997), misturando ação e drama em atuações intensas.

Entretanto, algumas transições não foram tão suaves. Mickey Rourke, que era considerado um dos maiores talentos da década de 80, viu sua carreira despencar nos anos 90, principalmente devido a escolhas de papéis questionáveis e problemas pessoais. Apesar disso, sua habilidade como ator permaneceu evidente, sendo resgatada mais tarde no início dos anos 2000.

Tentativas que deram errado e certo

Nem toda experimentação foi bem-sucedida. Filmes como Batman & Robin (1997) mostraram como o excesso de estilo e a falta de substância poderiam alienar o público. A dependência de visuais chamativos e diálogos forçados demonstrou que, sem um enredo sólido, nem mesmo grandes orçamentos podiam salvar uma produção.

Por outro lado, projetos como Titanic (1997) demonstraram que o risco de misturar romance, história e efeitos especiais poderia valer a pena, alcançando sucesso crítico e comercial. Dirigido por James Cameron, o filme não apenas emocionou audiências, mas também redefiniu os limites de produção cinematográfica.

Outro exemplo de sucesso foi O Sexto Sentido (1999), que surpreendeu o público com sua narrativa inovadora e reviravoltas. O diretor M. Night Shyamalan demonstrou que histórias bem contadas podiam competir com os blockbusters mais caros. Em contraste, filmes como Waterworld (1995) ilustraram que ideias ambiciosas sem execução adequada poderiam levar a prejuízos financeiros consideráveis, mesmo com grandes estrelas como Kevin Costner no elenco.

Uma linha tênue entre as décadas

A relação entre o cinema dos anos 80 e 90 é uma de continuidade e evolução. Enquanto os anos 80 estabeleceram as bases, os anos 90 as transformaram, adicionando profundidade e complexidade. Cineastas, roteiristas e atores trabalharam para expandir essas influências, resultando em uma década rica em inovação e experimentação. Contudo, como vimos, nem todos os riscos valeram a pena. Essa interconexão entre as décadas demonstra como o cinema é, acima de tudo, uma arte colaborativa e em constante movimento, sempre moldada pelo que veio antes e pelo que está por vir.

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