O vampiro pós-moderno nos filmes da década de 80

O surgimento desse novo tipo de vampiro pós-moderno pode ser atribuído a vários fatores culturais e sociais

A década de 1980 marcou uma revolução no gênero de filmes de terror, especialmente no que diz respeito à representação dos vampiros. Antes disso, os vampiros eram retratados como figuras aristocráticas, habitantes de castelos sombrios e distantes, afastados da sociedade moderna. No entanto, os anos 80 trouxeram um vampiro totalmente reformulado, um ser do sobrenatural que agora vivia nos centros urbanos, representando uma síntese do pós-modernismo e da cultura pop da época.

O surgimento desse novo tipo de vampiro pós-moderno pode ser atribuído a vários fatores culturais e sociais. Primeiramente, a década de 1980 testemunhou uma crescente urbanização e uma mudança na vida noturna das cidades, com uma vida noturna mais vibrante e uma cultura de clubes noturnos em ascensão. Isso forneceu um cenário perfeito para o vampiro pós-moderno, que agora podia se camuflar entre as multidões e caçar suas presas nas sombras das metrópoles.

Além disso, a estética dos anos 80 desempenhou um papel crucial na reformulação do vampiro. Os vampiros dessa época abandonaram as roupas góticas tradicionais em favor de roupas elegantes e modernas, muitas vezes incorporando elementos de moda da década, como ternos de ombreiras e jaquetas de couro. Essa nova aparência era uma mistura de elegância e contemporaneidade, que se destacava nos cenários urbanos e discotecas.

Um novo paradigma do sobrenatural urbano

O filme que personificou essa mudança de paradigma foi “Os Garotos Perdidos” (The Lost Boys) de 1987, dirigido por Joel Schumacher. O filme apresentava vampiros adolescentes, vivendo em uma cidade costeira da Califórnia, e tinha uma trilha sonora cheia de rock e punk. Os personagens principais eram jovens e atraentes, desafiando a ideia tradicional de que os vampiros eram apenas figuras assustadoras e envelhecidas.

Outro exemplo notável foi “Fome de Viver” (The Hunger) de 1983, dirigido por Tony Scott, no qual Catherine Deneuve interpretava uma vampira sofisticada que vivia em Nova York e frequentava clubes noturnos com seu amante, interpretado por David Bowie. Este filme explorou a sensualidade e a decadência da vida noturna da década de 1980, tornando-se um marco na representação dos vampiros pós-modernos.

Todavia, os filmes de vampiros da década de 1980 introduziram uma nova e emocionante faceta do sobrenatural, incorporando elementos pós-modernos e urbanos. Esses vampiros eram jovens, elegantes e inseridos na cultura pop da época, desafiando as convenções estabelecidas e definindo uma era única no cinema de terror. Eles continuam a ser lembrados como uma parte icônica da história do cinema, marcando uma mudança significativa na maneira como vemos os vampiros e o mundo em que vivem.

Vamps e vampiras dos anos 80: sedução e modernidade na cultura pop

Catherine Deneuve como a vampira de ´Fome de viver`
Catherine Deneuve como a vampira de ´Fome de viver`

O termo “vamp” é uma abreviação da palavra “vampira”, que se refere a uma mulher sedutora, misteriosa e muitas vezes predatória, com características que lembram as dos vampiros clássicos. A ideia por trás da figura da “vampira” é a de uma mulher que exerce um poder de atração irresistível sobre os homens, muitas vezes usando sua sensualidade e charme para manipulá-los. Essa figura feminina icônica teve origem nas obras de ficção do século XIX, como o romance “Carmilla” de Sheridan Le Fanu.

O paralelo entre o termo “vamp” e os filmes de vampiros da década de 1980 é bastante evidente, uma vez que ambos compartilham uma representação moderna e sedutora das figuras vampíricas. Na década de 1980, os filmes de vampiros apresentaram não apenas vampiros masculinos, mas também vampiras que se encaixavam na descrição das “vamps”. Aqui estão algumas maneiras pelas quais esses dois elementos se relacionam:

Sensualidade e Sedução: Tanto as “vamps” quanto as vampiras dos filmes dos anos 80 eram frequentemente retratadas como sedutoras, usando sua beleza e charme para atrair suas presas. Isso adicionou uma camada de sensualidade aos personagens e às histórias.

Elegância Moderna: Assim como as “vamps” eram conhecidas por sua moda elegante e estilo de vida moderno, os vampiros dos anos 80 abandonaram as vestes góticas tradicionais em favor de roupas contemporâneas e urbanas. Eles eram figuras de elegância e sofisticação.

Predação Urbana: Tanto as “vamps” quanto os vampiros dos filmes dos anos 80 eram frequentemente ambientados em cenários urbanos, refletindo a ideia de que essas figuras sobrenaturais haviam se adaptado à vida nas cidades modernas.

Independência e Empoderamento: As “vamps” frequentemente eram retratadas como mulheres independentes que não estavam submissas aos padrões tradicionais de comportamento feminino. Essa noção de independência também se refletiu em algumas vampiras nos filmes dos anos 80.

Portanto, a figura da “vamp” e a representação de vampiras nos filmes de vampiros da década de 1980 compartilham muitas semelhanças em termos de sedução, elegância moderna e adaptação à vida urbana. Ambos refletiram as mudanças na sociedade e na cultura da época, explorando a ideia de mulheres poderosas e atraentes que desafiavam as expectativas convencionais de gênero. Esses elementos contribuíram para a criação de personagens cativantes e memoráveis tanto nas páginas quanto nas telas.

A evolução do vampiro: impactos da figura pós-moderna nas histórias do Drácula tradicional

Chris Sarandon, o vampiro pós-moderno pode entrar facilmente em uma boate
Chris Sarandon, o vampiro pós-moderno pode entrar facilmente em uma boate

A figura do vampiro pós-moderno, como representada nos filmes da década de 1980 e em obras subsequentes, teve vários impactos nas histórias do Drácula, o vampiro tradicional do cinema. Estes impactos incluem:

Humanização do Vampiro: Os vampiros pós-modernos muitas vezes foram retratados de forma mais humanizada, com características psicológicas complexas e emoções. Isso contrasta com a representação mais unidimensional do Drácula como um ser malévolo e quase desprovido de humanidade. A humanização dos vampiros tornou-os personagens mais intrigantes e multifacetados.

Mudança na Estética Vampírica: A estética dos vampiros pós-modernos, com suas roupas modernas e elegantes, influenciou a forma como os vampiros foram retratados visualmente. O Drácula tradicional, muitas vezes vestido com roupas de época, começou a ser reinterpretado de maneira mais contemporânea, incorporando elementos do estilo dos anos 80 e além.

Desconstrução de Convenções Vampíricas: Os filmes de vampiros da década de 1980 e além frequentemente desafiaram as convenções estabelecidas do gênero. Isso incluiu questionar as regras tradicionais sobre como os vampiros funcionam, como eles podem ser derrotados e até mesmo explorar a possibilidade de vampiros e humanos coexistirem. Essa desconstrução afetou a maneira como as histórias de Drácula foram contadas, tornando-as mais flexíveis e abertas a novas interpretações.

Ampliação do Universo Vampírico: Os vampiros pós-modernos muitas vezes introduziram novas mitologias e expansões no universo vampírico. Isso inspirou abordagens criativas e expansões nas histórias de Drácula, levando a uma riqueza de material novo e emocionante.

Exploração de Temas Modernos: Os vampiros pós-modernos muitas vezes foram usados para explorar temas modernos, como alienação, identidade, sexualidade e consumo de mídia. Essas explorações temáticas influenciaram a narrativa das histórias de Drácula, tornando-as mais reflexivas e contemporâneas.

Diversidade de Personagens Vampiros: Com a evolução da representação dos vampiros, houve uma diversificação dos tipos de personagens vampiros. Isso incluiu vampiras protagonistas, vampiros anti-heróis e outros arquétipos que romperam com a ideia tradicional do vampiro como o vilão definitivo. Essa diversidade também se refletiu nas histórias de Drácula, permitindo a criação de personagens mais complexos.

Em resumo, a figura do vampiro pós-moderno teve um impacto significativo nas histórias do Drácula e no gênero de filmes de vampiros como um todo. Ela trouxe uma nova camada de complexidade, inovação estilística e uma exploração mais profunda de temas contemporâneos para o universo vampírico. Isso resultou em narrativas mais ricas e diversas que continuam a evoluir e cativar o público.

Aqui estão 10 filmes da década de 80 retratando o vampiro pós-moderno

01 – A Hora do Espanto (Fright Night, 1985) – Este é com certeza o filme que mais trouxe projeção ao vampiro pós-moderno. Um clássico que já foi refilmado e imitado diversas vezes. Tom Holland conseguiu construir uma atmosfera única em um filme totalmente despretencioso, que conquistou fãs com seus ótimos efeitos e personagens carismáticos.

02 – Quando Chega a Escuridão (Near Dark, 1987) – Um jovem se apaixona por uma moça, pertencente a uma gangue de vampiros nômades do oeste americano. Um dos primeiros filmes da premiada diretora Kathryn Bigelow. Obrigatório.

03 – Fome de Viver (The Hunger, 1983) – Catherine Deneuve e David Bowie interpretam vampiros elegantes que vivem em Nova York. Tony Scott trouxe excentrismo ao vampirismo com este filme.

04 – Os Garotos Perdidos (The Lost Boys, 1987) – Um filme com vampiros adolescentes e uma trilha sonora de rock que encapsula a cultura dos anos 80. Humor e terror em doses perfeitas, com elenco carismático.

05 – Um Estranho Vampiro (Vampire’s Kiss, 1988) – Filme protagonizado por Nicholas Cage, grande fracasso de bilheterias mas obteve sucesso em home video. Comédia onde o ator acredita piamente que vai se transformar em um vampiro.

Grace Jones é a isca de uma boate para atrair jovens solitários. Uma vampira pós moderna e performática

06 – Vamp (1986) – Grace Jones é uma vampira dona de uma boate onde todas as dançarinas do local formam uma gangue sedentas de sangue. Dois jovens estudantes que buscam diversão não imaginam que estão na mira e podem ser as próximas vítimas.

07 – A Hora do Espanto 2 (Fright Night 2, 1988) – Nessa continuação apenas Charley Brewster e Peter Vincent aparecem para liquidar a irmã do vampiro do primeiro filme. Diversão ligeira.

08 – Procura-se Rapaz Virgem (Once Bitten, 1985) – Filme protagonizado por Jim Carrey em início de carreira. Comédia onde ele interpreta um jovem estudante que começa a se transformar em vampiro após ser mordido por uma sedutora condessa que necessita de sangue de pessoas virgens.

09 – Eu, o Desejo, Uma História de Vampirismo (Desire, the Vampire, 1982) – Após ´Um Lobisomem Americano em Londres´, David Naughton protagonizou esse filme feito para TV, onde ele interpreta um rapaz que se apaixona por uma mulher misteriosa, ao que tudo indica é uma vampira.

10 – Meu Doce Vampiro (My Best Friend Is a Vampire, 1987) – Comédia adolescente onde o protagonista descobre que é um vampiro, mas se recusa a se alimentar de sangue e conviver com sua nova condição.

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Diego Almeida
Diego Almeida

Formado em Publicidade e pós graduado em Artes visuais. Admirador da cultura pop no geral, com objetivo em viajar por toda Europa em 1 mês apenas.

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