Retrospectiva 2020: um ano de desafios e transformações

O ano de 2020 provou que, independentemente das circunstâncias, a sétima arte tem a capacidade de se reinventar, adaptando-se aos desafios e mostrando que, mesmo nos momentos mais difíceis, há histórias que merecem ser contadas e vividas.

O ano de 2020 ficará marcado para sempre na história da sétima arte. Com a pandemia de COVID-19, a indústria cinematográfica se viu forçada a interromper produções, adiar lançamentos e fechar temporariamente as portas de cinemas ao redor do mundo. De Hollywood ao cinema nacional, as mudanças foram profundas e imediatas. Muitos profissionais, entre eles atores, atrizes e diretores, nos deixaram ao longo do ano, deixando um vazio significativo. Além disso, as cerimônias de premiação e os principais festivais de cinema precisaram se adaptar rapidamente para manter a conexão com o público. Vamos relembrar esse ano desafiador e tudo o que impactou o mundo cinematográfico em 2020.

Impacto da pandemia na indústria cinematográfica

Em março de 2020, quando o coronavírus foi oficialmente classificado como pandemia, o mercado cinematográfico global começou a sentir os efeitos. Milhares de salas de cinema fecharam as portas, algumas temporariamente e outras de forma definitiva. Sendo assim, o fechamento das salas resultou em uma queda acentuada de bilheteria e um abalo na estrutura das grandes redes exibidoras. Esse contexto levou ao cancelamento de eventos e ao adiamento de filmes altamente aguardados, como 007 – Sem Tempo para Morrer e Duna. Em contrapartida, o fechamento das salas impulsionou o crescimento das plataformas de streaming, como Netflix, Amazon Prime e Disney+. Sendo assim, lançamentos como Mulan, da Disney, e Soul, da Pixar, acabaram sendo disponibilizados diretamente no streaming. Marcando uma nova forma de exibição e trazendo questionamentos sobre o futuro dos cinemas.

A morte de Chadwick Boseman foi um dos fatos mais carcantes de 2020 (Foto: Getty Images/ Frazer Harrison)
A morte de Chadwick Boseman foi um dos fatos mais carcantes de 2020 (Foto: Getty Images/ Frazer Harrison)

As grandes despedidas de 2020

O ano de 2020 trouxe perdas irreparáveis para o mundo do cinema. Em agosto, o ator Chadwick Boseman faleceu aos 43 anos, vítima de um câncer de cólon, após uma batalha silenciosa contra a doença. Conhecido por papéis icônicos como Pantera Negra, Boseman inspirou milhões de pessoas e se tornou um símbolo de representatividade. Além dele, Sean Connery, lendário intérprete de James Bond, também se despediu, aos 90 anos, deixando um legado incomparável no cinema. O diretor Joel Schumacher, conhecido por filmes como Os Garotos Perdidos, e o ator sueco Max von Sydow, com uma longa carreira que incluía filmes como O Exorcista, também partiram, deixando marcas profundas na sétima arte.

Oscar 2020: o último grande evento pré-pandemia

A cerimônia do Oscar 2020, realizada em fevereiro, foi um dos últimos grandes eventos do cinema antes do impacto total da pandemia. Nessa noite histórica, Parasita, do diretor sul-coreano Bong Joon-ho, quebrou barreiras ao se tornar o primeiro filme em língua estrangeira a vencer a categoria de Melhor Filme. Portanto, essa vitória foi considerada um marco, simbolizando uma abertura de Hollywood para produções internacionais. Ressaltando assim, o talento de Bong Joon-ho, que também levou o prêmio de Melhor Diretor. Outros destaques foram Joaquin Phoenix, que levou o Oscar de Melhor Ator por sua atuação em Coringa, e Renée Zellweger, vencedora de Melhor Atriz por seu papel como Judy Garland em Judy. A cerimônia de 2020 ainda celebrou a diversidade e a força das narrativas internacionais.

Parasita foi a grande surpresa do ano de 2020 no Oscar - Foto: Mario Anzuoni/Reuters
Parasita foi a grande surpresa do ano de 2020 no Oscar – Foto: Mario Anzuoni/Reuters

Festivais de cinema e Globo de Ouro se reinventam

Festivais tradicionais como Cannes e Sundance precisaram se adaptar. Nesse sentido, o Festival de Cannes, pela primeira vez em décadas, foi cancelado, enquanto Sundance e o Festival Internacional de Cinema de Toronto (TIFF) migraram para edições online, tornando-se acessíveis para espectadores ao redor do mundo. O Globo de Ouro, realizado no início do ano, pôde ainda ocorrer de forma presencial, mas a premiação de 2021 optaria por um modelo híbrido. Sendo assim, esses festivais não apenas ampliaram o alcance das produções, como também impulsionaram debates sobre o futuro da indústria e o papel das plataformas de streaming como novos espaços de exibição e distribuição.

Bilheterias e os filmes que conseguiram resistir

Com o fechamento dos cinemas, as bilheterias de 2020 sofreram um impacto devastador. Segundo a Comscore, a receita global das bilheteiras caiu mais de 70% em relação a 2019. Portanto, entre os poucos filmes que conseguiram bons resultados antes da pandemia, Bad Boys para Sempre, com Will Smith e Martin Lawrence, e Sonic: O Filme se destacaram. Tenet, de Christopher Nolan, foi um dos poucos lançamentos importantes durante a pandemia e se tornou símbolo da resistência da indústria ao ser lançado diretamente nos cinemas, apesar dos riscos. Embora tenha alcançado números limitados, Tenet foi essencial para demonstrar que o público ainda estava disposto a ir às salas de cinema, desde que fossem adotadas as devidas medidas de segurança.

 Nomadland com Frances MacDormand foi um ponto positivo do ano de 2020 (Altitude Film/Divulgação)
 Nomadland com Frances MacDormand foi um ponto positivo do ano de 2020 (Altitude Film/Divulgação)

Os melhores lançamentos e produções de destaque

Mesmo com as dificuldades, 2020 trouxe algumas produções marcantes, muitas delas lançadas diretamente nas plataformas digitais. Nesse sentido, entre os destaques estão O Som do Silêncio, com Riz Ahmed interpretando um baterista que perde a audição, e Nomadland, dirigido por Chloé Zhao, que acompanhava uma mulher em sua jornada pelas paisagens desoladas dos Estados Unidos. A Pixar lançou Soul, uma animação que explorava temas existenciais e foi amplamente elogiada por sua sensibilidade e profundidade. Outros lançamentos como The Invisible Man trouxeram novas abordagens ao gênero de terror, enquanto produções como O Céu da Meia-Noite, dirigido e estrelado por George Clooney, representaram o isolamento e os sentimentos que o mundo enfrentava naquele momento.

Polêmicas e controvérsias no universo cinematográfico

2020 também foi um ano de discussões intensas dentro da indústria. Questões de diversidade e inclusão vieram à tona, especialmente após o falecimento de Chadwick Boseman. Sua morte gerou reflexões sobre a representatividade negra no cinema e a falta de oportunidades para minorias. Além disso, debates sobre a mudança de lançamentos do cinema para o streaming dividiram a opinião de cineastas e executivos. Diretores como Christopher Nolan e Denis Villeneuve foram críticos em relação ao lançamento simultâneo em plataformas de streaming, afirmando que esse modelo prejudicava a experiência cinematográfica. Em contrapartida, muitos viram na mudança uma oportunidade para democratizar o acesso e modernizar a indústria.

O legado de 2020 para o futuro do cinema

Apesar dos desafios, 2020 trouxe inovações e mudanças profundas que moldarão o futuro do cinema. A pandemia forçou a indústria a reconsiderar modelos de negócios, formas de distribuição e a relação com o público. Embora o streaming tenha se consolidado como um meio essencial, o cinema tradicional provou ser resiliente, encontrando maneiras de manter-se relevante.

As perdas de grandes talentos foram sentidas de forma dolorosa, mas seus legados permanecerão vivos, servindo de inspiração para novas gerações. Contudo, a celebração de filmes internacionais no Oscar e o aumento do alcance dos festivais digitais abriram espaço para novas vozes e histórias de todas as partes do mundo.

O cinema, mesmo diante das adversidades, continua sendo um reflexo de nossa humanidade e de nossas aspirações. Nesse sentido, o ano de 2020 provou que, independentemente das circunstâncias, a sétima arte tem a capacidade de se reinventar, adaptando-se aos desafios e mostrando que, mesmo nos momentos mais difíceis, há histórias que merecem ser contadas e vividas. Portanto, o legado de 2020 no cinema será lembrado como um testemunho de perseverança, criatividade e esperança.

LEIA TAMBÉM:

Compartilhe
Diego Almeida
Diego Almeida

Formado em Publicidade e pós graduado em Artes visuais. Admirador da cultura pop no geral, com objetivo em viajar por toda Europa em 1 mês apenas.

Artigos: 91