A série Ripley, estrelada por Andrew Scott e recém-estreada na Netflix, traz novamente aos holofotes um dos personagens mais enigmáticos e fascinantes da literatura e do cinema: Tom Ripley. Dirigida e roteirizada por Steven Zaillian, a produção é marcada por uma estética noir com forte contraste em preto e branco, acentuando o mistério e a complexidade do protagonista. Sendo assim, Andrew Scott confere a Ripley uma face imperscrutável, cheia de nuance. Enquanto Johnny Flynn e Dakota Fanning recriam Dickie e Marge, personagens-chave na narrativa.
Com essa nova versão na mente, vale a pena revisitar a história do falsificador em outras adaptações cinematográficas e refletir sobre o que faz desse personagem tão inesquecível e multifacetado. Além de descobrir qual dos vários atores que o interpretaram se destacou na tela.
A origem de Tom Ripley
Tom Ripley foi criado pela autora Patricia Highsmith em 1955, no romance O Talentoso Ripley (The Talented Mr. Ripley). Desde sua primeira aparição, Ripley se destacou como um anti-herói complexo, com características que o diferenciam dos vilões clássicos. Contudo, ele é um jovem pobre que se infiltra na elite americana, ambicionando riqueza e status. Astuto, manipulador e imoral, Ripley é capaz de qualquer coisa para manter seu lugar no mundo que tanto deseja. No entanto, sua astúcia e charme também geram uma estranha empatia por parte do público, tornando-o um personagem intrigante.
O Sol por Testemunha: Alain Delon no papel icônico
A primeira aparição de Tom Ripley no cinema foi em O Sol por Testemunha (Plein Soleil), lançado em 1960 e dirigido por René Clément. O filme é uma adaptação livre do primeiro livro da série de Highsmith, e Alain Delon, em um de seus primeiros papéis de destaque, personificou o falsificador com maestria. Contudo, com sua beleza gelada e carisma sombrio, Delon deu vida a um Tom Ripley elegante e letal, que, até hoje, muitos críticos consideram a melhor interpretação do personagem. Nesse sentido, sua atuação equilibra perfeitamente o charme sedutor e o perigo que Tom encarna.
O Sol por Testemunha não só solidificou Delon como um ícone internacional, mas também ajudou a estabelecer a reputação de Ripley como um personagem com camadas de complexidade que iriam fascinar cineastas e espectadores por décadas.
O Talentoso Ripley: Matt Damon e uma nova perspectiva
Em 1999, o diretor Anthony Minghella trouxe O Talentoso Ripley para as telas novamente, desta vez com Matt Damon no papel-título. Essa adaptação foi mais fiel ao livro de Highsmith e trouxe uma atuação mais introspectivo e vulnerável. Damon surpreendeu ao deixar de lado sua imagem de herói para mergulhar em um personagem com motivações obscuras. Sendo assim, sua interpretação mostrou um personagem mais humano, lidando com sua inveja, desejo e medo, enquanto tenta desesperadamente assumir a vida de Dickie Greenleaf (interpretado por Jude Law).
Embora o filme tenha sido bem recebido e Damon tenha sido amplamente elogiado, sua versão de Ripley é vista como menos ameaçadora do que a de Delon. Mesmo assim, o retrato que ele fez das inseguranças e da fragilidade emocional do personagem trouxe uma nova dimensão à figura de Ripley, tornando-o ainda mais trágico.
O Amigo Americano: o personagem nas mãos de Dennis Hopper
Outra versão notável do personagem apareceu em O Amigo Americano (Der Amerikanische Freund), de 1977, dirigido por Wim Wenders. Desta vez, Ripley foi interpretado pelo lendário Dennis Hopper. Essa adaptação de Ripley’s Game, o terceiro livro da série, trouxe um Ripley mais envelhecido e desencantado. Hopper interpretou o personagem com um toque mais grosseiro e uma certa desilusão, contrastando fortemente com a elegância de Delon ou a sofisticação de Damon. Contudo, o filme também tem uma estética muito diferente, mais próxima do cinema autoral europeu da época, o que confere a essa versão do personagem uma atmosfera mais sombria e existencialista.
O Retorno do Talentoso Ripley: John Malkovich e a maturidade do personagem
Em 2002, John Malkovich trouxe Tom Ripley de volta às telas em O Retorno do Talentoso Ripley (Ripley’s Game), uma adaptação mais fiel ao livro Ripley’s Game. Aqui, vemos um Tom mais velho e seguro de si, já estabelecido no mundo do crime e da fraude. A interpretação de Malkovich é cínica, calculista e desprovida da vulnerabilidade que vimos em versões anteriores. Nesse sentido, ele encarna um personagem já completamente imerso em seu estilo de vida criminoso, mostrando como o personagem evoluiu ao longo dos anos.
Embora o filme tenha passado despercebido para muitos, a performance de Malkovich foi elogiada pela forma como ele capturou a frieza e a indiferença de um personagem em plena maturidade.
Ripley no Limite: a sagacidade leve de Barry Pepper
Em Ripley no Limite (Ripley Under Ground), de 2005, Barry Pepper assume o papel de Tom Ripley, oferecendo uma interpretação distinta e talvez menos comentada. Neste filme, Tom está imerso no mundo das falsificações artísticas, utilizando sua astúcia para manter uma farsa em torno de um famoso pintor. Contudo, a abordagem de Pepper é curiosa, trazendo um personagem mais descontraído, quase divertido em sua manipulação do caos ao redor. Embora não alcance o impacto das versões anteriores, Barry Pepper confere ao personagem uma sagacidade leve e intrigante. Isso se encaixa bem no tom mais leve e cínico do filme.
Andrew Scott: o novo Tom Ripley na Netflix
Agora, com Ripley, a série da Netflix, temos uma nova oportunidade de explorar o personagem, desta vez sob a interpretação de Andrew Scott. Scott, conhecido por seu papel como o “Padre Gato” em Fleabag, traz ao personagem uma faceta mais enigmática e sutil. Sendo assim, sua atuação é marcada pela ambiguidade, capturando a complexidade psicológica de Ripley e a tensão constante entre seus desejos e suas ações.
A série também se diferencia por sua estética noir, com um uso marcante de preto e branco que intensifica a atmosfera de mistério. Com Johnny Flynn no papel de Dickie Greenleaf e Dakota Fanning como Marge, a série recria o triângulo central da trama com uma nova dinâmica, onde as suspeitas e o desconforto são palpáveis desde o início.
Quem foi o melhor Ripley?
Ao longo das décadas, muitos atores trouxeram sua própria interpretação de Tom Ripley, cada um acrescentando algo novo ao personagem. Contudo, Alain Delon é frequentemente citado como o melhor Ripley, graças à sua presença magnética e à frieza elegante que ele trouxe ao papel. No entanto, Matt Damon também foi muito elogiado por sua abordagem mais emocional e vulnerável. Enquanto John Malkovich trouxe uma maturidade cínica, que refletia um Ripley mais experiente.
Agora, com Andrew Scott oferecendo uma nova visão do personagem, é possível que ele conquiste seu lugar como uma das melhores encarnações do personagem. Sendo assim, a profundidade de sua atuação e a nova abordagem estética da série fazem desta uma versão imperdível para os fãs de Tom Ripley e suas tramas de intriga, falsidade e ambição.